por Anailde Ribeiro
e Ramona Rocha
Continuando
com o Realismo, vamos sair um pouquinho do Brasil e estudar sobre um livro português,
muito importante nesse Movimento Literário, que virou até filme brasileiro e minissérie na Globo!
Primo
Basílio foi escrito por Eça de Queirós, que era um crítico da sociedade
portuguesa e em O Primo Basílio, ele
trata do casamento de aparências, a hipocrisia da sociedade, a relação de
dominador sobre o dominado, além de ironizar o Romantismo e seus aspectos
fúteis.
ENREDO
A obra
eciana narra à história de Luísa, uma dona de casa burguesa influenciada pelos
livros românticos, casada com Jorge, engenheiro e funcionário público, tinha um
casamento apático, mas, aparentemente feliz, cuja casa recebia com frequência
os amigos: Sebastião, Dona Felicidade, Ernestinho e Conselheiro Acácio; e de
forma sorrateira, Leopoldina, visto ser mal-quista pelo engenheiro, devido sua
fama leviana.
O
casamento entra em crise quando o marido viaja ao Alentejo, a trabalho, e a
mulher reencontra seu primo e ex-namorado de adolescência, Basílio, o qual mora
em Paris e vive aristocraticamente.
Encantada
por seu jeito Don Juan, Luísa se entrega ao amor antigo, sendo descoberta por
sua empregada, Juliana, que passa a chantageá-la, exigindo uma exorbitante
quantia em dinheiro e que a patroa fizesse os serviços domésticos, invertendo a
relação dominador-dominado, embora, a outra serviçal, Joana, continuasse
passiva.
Não
suportando os desmandos da empregada, Luísa pede ajuda a Sebastião, único
personagem realmente bom na obra, que ao recuperar as cartas, evidências do
adultério, provoca um ataque cardíaco na chantagista. Todavia, a saúde de Luísa
já está debilitada, e durante sua doença, recebe uma carta de seu primo, a qual
é receptada por Jorge, que descobre a traição e mesmo perdoando-a, resolve
contar-lhe sua descoberta ao observar sua convalescência. Entretanto, Luísa tem
uma recaída e morre, enquanto, Basílio retorna a Lisboa, descobre o falecimento
de sua parenta e revela ao Visconde Reinaldo que sua relação amorosa com a
prima não passara de um simples passatempo.
Já, no filme, Primo
Basílio, as histórias marginais são abandonadas, havendo uma ênfase no
drama principal, a falta de fidelidade por parte de Luísa e a chantagem da
serviçal doméstica, Juliana. Na obra cinematográfica, os amigos que freqüentam
o “lar do engenheiro” são: Sebastião e, à surdina, Leopoldina.
Sofrendo
de culpa pela infidelidade e consequentemente pela chantagem, a dona de casa
pede ajuda a Sebastião, que ao recuperar as cartas, atropela Juliana. Ademais,
com sua saúde frágil, seu marido descobre a traição, Luísa fica ainda mais
debilitada e antes de chegar a óbito, recebe a visita de sua melhor amiga, a
qual aos gritos chama-a de “puta”, em seus momentos de delírio.
Quando
retorna ao Brasil, o primo descobre a morte de sua amante, desabafando da
seguinte forma: “Antes ela do que eu”.
PERSONAGENS
Primo Basílio, filme, preza pela simplicidade, tornando mais raso o
drama e excluindo personagens da obra literária, a qual apresenta os seguintes
tipos de personagens (Aguiar e Silva, 1984, p. 709):
o
Personagens desenhadas: possuem uma
característica básica, tendendo a caricatura, como Dona Felicidade, que
representa a beata ignorante.
o
Personagens planas: não altera seu
comportamento no curso do romance, como Sebastião, o qual é verdadeiramente bom
e mesmo sendo amigo de Jorge, ajuda sua esposa sem qualquer segunda intenção.
o
Personagens modeladas ou redondas: possui
certa complexidade, uma multiplicidade de traços, como Juliana, que possui
verdadeira aversão por seus patrões, devido à inveja de não possuir os bens que
considera seus de direito por ter cuidado da tia Virgínia.
Para uma melhor análise é
melhor ater-se aos personagens mais marcantes: Luísa, Juliana, Joana, Jorge,
Leopoldina, Basílio e Sebastião.

Jorge vai trabalhar no Alentejo e por isso viaja sem sua esposa. É um homem conservador,
que condena a traição feminina e contrariando seus princípios, é capaz de
perdoar a traição da esposa por amá-la imensamente.
Leopoldina é uma personagem
plana, amiga de colégio de Luísa, é mal vista pela sociedade por ser casada e
mesmo assim possuir amantes, na obra é conhecida por “A Leopoldina, a Pão e
queijo” .
Sebastião é o mais próximo de
Jorge, é apresentado no romance como “Sebastião, o seu íntimo, o bom Sebastião,
o Sebastiarrão” (Queirós, ob. Cit, p. 2), o único personagem bom caráter, em
ambas as obras.
Enquanto Joana, a cozinheira,
cuida da patroa durante sua doença, pois, ao ser obrigada a demiti-la, Luísa
sussurra: “-Joana, não procure casa, venha por aqui além de amanhã.” (Queirós,
ob. Cit, p. 317.
Basílio é um bom vivante,
galanteador, dissimulado, vaidoso, na obra eciana fez fortuna no Brasil e
retorna a Lisboa após viajar pela Europa. Para ele seu relacionamento com Luísa
era meramente carnal, como é notório, em sua declaração a Visconde Reinaldo,
após comentar sobre a morte da prima: “-Que ferro! Podia ter trazido a
Alphosine!” (Queirós, ob. Cit, p. 378). Ademais, é um covarde, por ter fugido
da responsabilidade ao descobrir da chantagem da empregada e abandonar sua
amante a mercê da sorte.

TEMPO E ESPAÇO
Eça de
Queirós usou a literatura para criticar a sociedade lisboeta, todavia, a pouca
complexidade do filme impediu a recriação da sociedade, inibindo o efeito da
obra ser um reflexo do público.
Ainda,
quanto ao espaço, há o Paraíso, isto
é, o local que Basílio adquire para ser palco de seu relacionamento com a prima,
e cuja descrição exprime a diferença de apreço entre os amantes, pois, enquanto
para Luísa é a personificação de seu romantismo; a escolha do local feita por
Basílio só evidencia que não passava de uma aventura.
Já em
relação ao tempo, a obra literária, mesmo predominantemente cronológica, ou
seja, “o tempo da diegese comporta um tempo objetivo, um tempo ‘público’,
delimitado e caracterizado por indicadores estritamente cronológicos atinentes
ao calendário” (Aguiar e Silva, ob. Cit, p. 745-746), há a utilização de flash-backs, isto é, “o começo do
discurso corresponde a um momento já adiantado da diegese, obrigando tal
técnica, como é óbvio, a narrar depois no
discurso o que acontecera antes da
diegese” (Aguiar e Silva, ob. Cit, p. 751), como no relato da vida de Juliana.
DESCRIÇÃO
O
recurso é usado nas obras realistas na descrição dos personagens, de maneira,
que “ao fim de um processo como esse, o leitor pode se convencer de que formou,
sozinho, uma imagem das personagens, mas na verdade chega às conclusões
previstas pelo narrador” (Abaurre e Pontara, 2005, p. 385).
Já no
cinema, há uma condensação dos acontecimentos para acelerar a trama e evitar
que se torne enfadonha, inclusive, excluindo fatos cotidianos e irrelevantes,
como sair do teatro e o caminho de chegar em casa, em vez disso, “os fatos são
condensados em num único jogo cênico. Por isso, no romance proibido entre Luísa
e Basílio as cenas dos encontros são rápidas, mas coesas e bem encenadas. A
troca de bilhetes e as carícias também são trabalhadas de uma forma acelerada,
porém não provocando superficialidade nos atos” (Nato, 2011, p. 6), visto a
descrição não caber nesse gênero.
FOCO
NARRATIVO
Se na
releitura não há um narrador que distancie personagem de telespectador, a obra
literária é escrita em terceira pessoa, ou seja, heterodiegética, a qual
“bifurca-se em 1) o escritor, onisciente, conta-nos ou mostra-nos a história, e
2) o escritor limita-se às funções de observador, apenas comunicando o que
estiver ao seu alcance” (Moises, 2007, p. 113), sendo no caso de O Primo Basílio, o narrador onisciente,
de maneira que distancie personagem de leitor e este possa emitir juízos de
valor sobre os atos, deste modo, reconhecendo-se na verossimilhança possam
mudar suas atitudes e transformar a sociedade lisboeta.
Para
assegurar a onipotência do narrador, é usado o tempo verbal pretérito, para
produzir a ilusão da verdade.
Ficou curioso e quer conhecer mais da obra?
O Domínio Público disponibilizou o livro na net:
Ficou com alguma dúvida?
Entra em contato com a gente: palavrafemininaar@hotmail.com
Abraços e até a próxima.
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