quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O Primo Basílio (Eça de Queirós)




por Anailde Ribeiro
  e Ramona Rocha



            Continuando com o Realismo, vamos sair um pouquinho do Brasil e estudar sobre um livro português, muito importante nesse Movimento Literário, que virou até filme brasileiro e minissérie na Globo!

            Primo Basílio foi escrito por Eça de Queirós, que era um crítico da sociedade portuguesa e em O Primo Basílio, ele trata do casamento de aparências, a hipocrisia da sociedade, a relação de dominador sobre o dominado, além de ironizar o Romantismo e seus aspectos fúteis.

ENREDO

            A obra eciana narra à história de Luísa, uma dona de casa burguesa influenciada pelos livros românticos, casada com Jorge, engenheiro e funcionário público, tinha um casamento apático, mas, aparentemente feliz, cuja casa recebia com frequência os amigos: Sebastião, Dona Felicidade, Ernestinho e Conselheiro Acácio; e de forma sorrateira, Leopoldina, visto ser mal-quista pelo engenheiro, devido sua fama leviana.
            O casamento entra em crise quando o marido viaja ao Alentejo, a trabalho, e a mulher reencontra seu primo e ex-namorado de adolescência, Basílio, o qual mora em Paris e vive aristocraticamente.
            Encantada por seu jeito Don Juan, Luísa se entrega ao amor antigo, sendo descoberta por sua empregada, Juliana, que passa a chantageá-la, exigindo uma exorbitante quantia em dinheiro e que a patroa fizesse os serviços domésticos, invertendo a relação dominador-dominado, embora, a outra serviçal, Joana, continuasse passiva.
            Não suportando os desmandos da empregada, Luísa pede ajuda a Sebastião, único personagem realmente bom na obra, que ao recuperar as cartas, evidências do adultério, provoca um ataque cardíaco na chantagista. Todavia, a saúde de Luísa já está debilitada, e durante sua doença, recebe uma carta de seu primo, a qual é receptada por Jorge, que descobre a traição e mesmo perdoando-a, resolve contar-lhe sua descoberta ao observar sua convalescência. Entretanto, Luísa tem uma recaída e morre, enquanto, Basílio retorna a Lisboa, descobre o falecimento de sua parenta e revela ao Visconde Reinaldo que sua relação amorosa com a prima não passara de um simples passatempo.
Já, no filme, Primo Basílio, as histórias marginais são abandonadas, havendo uma ênfase no drama principal, a falta de fidelidade por parte de Luísa e a chantagem da serviçal doméstica, Juliana. Na obra cinematográfica, os amigos que freqüentam o “lar do engenheiro” são: Sebastião e, à surdina, Leopoldina.
            Sofrendo de culpa pela infidelidade e consequentemente pela chantagem, a dona de casa pede ajuda a Sebastião, que ao recuperar as cartas, atropela Juliana. Ademais, com sua saúde frágil, seu marido descobre a traição, Luísa fica ainda mais debilitada e antes de chegar a óbito, recebe a visita de sua melhor amiga, a qual aos gritos chama-a de “puta”, em seus momentos de delírio.
            Quando retorna ao Brasil, o primo descobre a morte de sua amante, desabafando da seguinte forma: “Antes ela do que eu”.

           
PERSONAGENS

Primo Basílio, filme, preza pela simplicidade, tornando mais raso o drama e excluindo personagens da obra literária, a qual apresenta os seguintes tipos de personagens (Aguiar e Silva, 1984, p. 709):

o   Personagens desenhadas: possuem uma característica básica, tendendo a caricatura, como Dona Felicidade, que representa a beata ignorante.
o   Personagens planas: não altera seu comportamento no curso do romance, como Sebastião, o qual é verdadeiramente bom e mesmo sendo amigo de Jorge, ajuda sua esposa sem qualquer segunda intenção.
o   Personagens modeladas ou redondas: possui certa complexidade, uma multiplicidade de traços, como Juliana, que possui verdadeira aversão por seus patrões, devido à inveja de não possuir os bens que considera seus de direito por ter cuidado da tia Virgínia.

Para uma melhor análise é melhor ater-se aos personagens mais marcantes: Luísa, Juliana, Joana, Jorge, Leopoldina, Basílio e Sebastião.

 Luísa é apresentada em ambas as obras como uma típica burguesa, que não trabalha e passa o dia em casa esperando o retorno do marido, todavia, enquanto na obra eciana seu passatempo são os livros, conferindo-lhe um ar frágil e influenciável. Apesar de toda fragilidade e romantismo, é capaz de ser infiel ao marido e ao ser descoberta, percebe que sempre o amou e definha de arrependimento.
Jorge vai trabalhar no Alentejo e por isso viaja sem sua esposa. É um homem conservador, que condena a traição feminina e contrariando seus princípios, é capaz de perdoar a traição da esposa por amá-la imensamente.
Leopoldina é uma personagem plana, amiga de colégio de Luísa, é mal vista pela sociedade por ser casada e mesmo assim possuir amantes, na obra é conhecida por “A Leopoldina, a Pão e queijo” .
Sebastião é o mais próximo de Jorge, é apresentado no romance como “Sebastião, o seu íntimo, o bom Sebastião, o Sebastiarrão” (Queirós, ob. Cit, p. 2), o único personagem bom caráter, em ambas as obras.
Enquanto Joana, a cozinheira, cuida da patroa durante sua doença, pois, ao ser obrigada a demiti-la, Luísa sussurra: “-Joana, não procure casa, venha por aqui além de amanhã.” (Queirós, ob. Cit, p. 317.
Basílio é um bom vivante, galanteador, dissimulado, vaidoso, na obra eciana fez fortuna no Brasil e retorna a Lisboa após viajar pela Europa. Para ele seu relacionamento com Luísa era meramente carnal, como é notório, em sua declaração a Visconde Reinaldo, após comentar sobre a morte da prima: “-Que ferro! Podia ter trazido a Alphosine!” (Queirós, ob. Cit, p. 378). Ademais, é um covarde, por ter fugido da responsabilidade ao descobrir da chantagem da empregada e abandonar sua amante a mercê da sorte.
Juliana é a mais complexa das personagens, feia, solteirona, bastarda, tem sua história contada na obra para justificar suas maneiras; sua extrema curiosidade permitiu-a conseguir provas do caso extraconjugal de Luísa, chantageando-a como vingança para usufruir da vida que sempre quis e nunca lhe foi permitida.


TEMPO E ESPAÇO

            Eça de Queirós usou a literatura para criticar a sociedade lisboeta, todavia, a pouca complexidade do filme impediu a recriação da sociedade, inibindo o efeito da obra ser um reflexo do público.
            Ainda, quanto ao espaço, há o Paraíso, isto é, o local que Basílio adquire para ser palco de seu relacionamento com a prima, e cuja descrição exprime a diferença de apreço entre os amantes, pois, enquanto para Luísa é a personificação de seu romantismo; a escolha do local feita por Basílio só evidencia que não passava de uma aventura.
            Já em relação ao tempo, a obra literária, mesmo predominantemente cronológica, ou seja, “o tempo da diegese comporta um tempo objetivo, um tempo ‘público’, delimitado e caracterizado por indicadores estritamente cronológicos atinentes ao calendário” (Aguiar e Silva, ob. Cit, p. 745-746), há a utilização de flash-backs, isto é, “o começo do discurso corresponde a um momento já adiantado da diegese, obrigando tal técnica, como é óbvio, a narrar depois no discurso o que acontecera antes da diegese” (Aguiar e Silva, ob. Cit, p. 751), como no relato da vida de Juliana.


DESCRIÇÃO

            O recurso é usado nas obras realistas na descrição dos personagens, de maneira, que “ao fim de um processo como esse, o leitor pode se convencer de que formou, sozinho, uma imagem das personagens, mas na verdade chega às conclusões previstas pelo narrador” (Abaurre e Pontara, 2005, p. 385).
            Já no cinema, há uma condensação dos acontecimentos para acelerar a trama e evitar que se torne enfadonha, inclusive, excluindo fatos cotidianos e irrelevantes, como sair do teatro e o caminho de chegar em casa, em vez disso, “os fatos são condensados em num único jogo cênico. Por isso, no romance proibido entre Luísa e Basílio as cenas dos encontros são rápidas, mas coesas e bem encenadas. A troca de bilhetes e as carícias também são trabalhadas de uma forma acelerada, porém não provocando superficialidade nos atos” (Nato, 2011, p. 6), visto a descrição não caber nesse gênero.

FOCO NARRATIVO
            Se na releitura não há um narrador que distancie personagem de telespectador, a obra literária é escrita em terceira pessoa, ou seja, heterodiegética, a qual “bifurca-se em 1) o escritor, onisciente, conta-nos ou mostra-nos a história, e 2) o escritor limita-se às funções de observador, apenas comunicando o que estiver ao seu alcance” (Moises, 2007, p. 113), sendo no caso de O Primo Basílio, o narrador onisciente, de maneira que distancie personagem de leitor e este possa emitir juízos de valor sobre os atos, deste modo, reconhecendo-se na verossimilhança possam mudar suas atitudes e transformar a sociedade lisboeta.
            Para assegurar a onipotência do narrador, é usado o tempo verbal pretérito, para produzir a ilusão da verdade.


Ficou curioso e quer conhecer mais da obra?

O Domínio Público disponibilizou o livro na net:
         Ficou com alguma dúvida?

Entra em contato com a gente: palavrafemininaar@hotmail.com

Abraços e até a próxima.


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