quinta-feira, 13 de setembro de 2012

O Cortiço (Aluísio Azevedo)




por Anailde Ribeiro
  e Ramona Rocha




O Cortiço, de Aluísio Azevedo, é um dos livros característicos do Naturalismo, por representar o determinismo da época, tão bem ilustrado por Jerônimo que ao chegar no Brasil, com toda a cultura de Portugal, acaba por se  deixa “converter” por Rita Baiana ao jeito brasileiro de ser.
  •  História:
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular capital, ele explora os empregados; sendo o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza, o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.
Em contraponto a João Romão, surge Miranda, o comerciante bem estabelecido que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar para aumentar seu quintal.
Devido a inveja da condição social mais elevada de Miranda, João Romão trabalha ardorosamente e passa por privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o título de barão, João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também participar ativamente da vida burguesa.
No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira. Destacam-se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. O caso do português Jerônimo, o qual tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana, quando opera-se uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos; é uma representação do determinismo da época.

A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de barão e passa a ter superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival, João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos.
O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se transformar na Vila João Romão.
O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante em casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo as manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado.
Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a denuncia a seus donos como escrava fugida, provocando em um gesto de desespero, o suicido de Bertoleza, quando estava prestes a ser capturada.
  • Personagens:
O Cortiço é um romance naturalista, logo, o autor preferiu dar voz a tipos em vez de preocupar-se com aspectos psicológicos aprofundados; ademais, o sendo um romance de espaço - aquele cujo espaço tem predominância e atua como personagem principal da obra, cabendo-lhe mais ênfase que os personagens ou ação – permite a obra apresentar uma extensa quantidade de personagens, representando a coletividade e que serão apresentadas em grupos por ilustrarem, cada qual, seu grupo:
O cortiço e o sobrado: personagem principal; sofre processo de zoomorfização; é o núcleo gerador de tudo e foi feito à imagem de seu proprietário, cresce, se desenvolve e se transforma com João Romão. Apesar de seu crescimento, desenvolvimento e transformação acompanharem os mesmos estágios na pessoas de João Romão, é, na verdade, o estabelecimento que muda o dono, não o contrário.
João Romão, Miranda, Bertoleza e secundariamente, Zulmira, Botelho e D.Estela: Miranda e João Romão, apesar de aparentarem ser diferentes frente à sociedade, são essencialmente influenciados pelos mesmos elementos, tendo que ter, portanto, o mesmo destino. Entretanto, enquanto Romão e Miranda são complementares. Bertoleza e D.Estela são, sob todas as óticas, o oposto uma da outra: a negra escrava, pobre e fiel, e a mulher branca, nobre e adúltera. Zulmira e Botelho têm aqui papéis de meros instrumentos do autor para dar andamento à história.
Jerônimo, Rita, Firmo e Piedade: nessas relações é demonstrado mais claramente o princípio naturalista que rege a obra de Azevedo, cujas interações são baseadas puramente no instinto, no desejo sexual, no ciúme, na ira. Jerônimo e Firmo, são, como Romão e Miranda, complementos um do outro. Jerônimo, desde o dia em que viu Rita dançar pela primeira vez, estava fadado à perdição, arrastando Firmo e Piedade para o caminho do ciúme e da destruição a morte, no caso de Firmo, e a miséria e a quase-loucura, no caso de Piedade.
Pombinha, Leónie e Senhorinha: desde o momento em que é apresentada, a prostituta Leónie, madrinha de uma das filhas de Augusta, representa a independência financeira que aqueles que têm vida honesta não conseguem alcançar. Vende seu corpo, mas o que faz não é crime aos olhos dos moradores do cortiço, que não tem as cínicas restrições sexuais da burguesia brasileira. Pombinha, filha de D.Isabel, era uma garota de 18 anos que ainda não havia se tornado mulher. Após anos esperando o momento de se casar, irá se separar do marido após pouco tempo para seguir num relacionamento homossexual com Leónie, que havia lhe iniciado no prazer sexual. Nesse quadro, Senhorinha, a filha de Jerônimo se insere para provar que ninguém foge ao meio: tendo sido criada num cortiço, substituindo Pombinha para seus moradores, com os pais separados e vendo homens tirar proveito da mãe de forma constante, termina tendo o mesmo destino de Pombinha, apesar da educação que teve.
Alguns personagens secundários são: Henrique, Valentim, Leonor, Leandra (Machona), Ana das Dores, Nenén, Agostinho, Augusta, Alexandre, Juju, Leocádia, Bruno, Paula (a bruxa), Marciana, Florinda, Dona Isabel, Albino, Delporto, Pompeo, Francesco e Andrea (os quatro imigrantes italianos), Porfiro, Libório e Pataca.
  • Narrador:
A obra é narrada em terceira pessoa, com narrador onisciente (que tem conhecimento de tudo), como propunha o movimento naturalista. O narrador tem poder total na estrutura do romance (entra no pensamento dos personagens, faz julgamentos e tenta comprovar, como se fosse um cientista, as influências do meio, da raça e do momento histórico), enquanto mantém uma aparência de imparcialidade.
  •  Espaço:
São dois os espaços explorados na obra. O primeiro é o cortiço, amontoado de casebres mal-arranjados, onde os pobres vivem. Esse espaço representa a mistura de raças e a promiscuidade das classes baixas. Funciona como um organismo vivo. Junto ao cortiço estão a pedreira e a taverna do português João Romão.
O segundo espaço, que fica ao lado do cortiço, é o sobrado aristocratizante do comerciante Miranda e de sua família. O sobrado representa a burguesia ascendente do século XIX. Esses espaços fictícios são enquadrados no cenário do bairro de Botafogo.
  • Tempo:
Em O Cortiço, o tempo é trabalhado de maneira linear, com princípio, meio e desfecho da narrativa. A história se desenrola no Brasil do século XIX, sem precisão de datas. Há, no entanto, que ressaltar a relação do tempo com o desenvolvimento do cortiço e com o enriquecimento de João Romão.
  • Escola Literária: Naturalismo
O autor naturalista tinha uma tese a sustentar sua história. A intenção era provar, por meio da obra literária, como o meio, a raça e a história determinam o homem e o levam à degenerescência.
A obra está a serviço de um argumento. Aluísio se propõe a mostrar que a mistura de raças em um mesmo meio desemboca na promiscuidade sexual, moral e na completa degradação humana. Mas, para além disso, o livro apresenta outras questões pertinentes para pensar o Brasil, que ainda são atuais, como a imensa desigualdade social. 

Ficou curioso e quer conhecer mais da obra?

O Domínio Público disponibilizou o livro na net:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00021a.pdfFicou com alguma dúvida?

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palavrafemininaar@hotmail.com
Abraços e até a próxima.

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