por Anailde Ribeiro
e Ramona Rocha
O Mulato, de Aluísio de Azevedo, além de ter inaugurado o Realismo, é uma das principais obras dessa Escola Literária, por isso, hoje estudaremos um pouco mais sobre ele.
Em primeiro lugar, O Mulato possui grande importância no cenário literário e não, apenas, por ser o marco inicial do Movimento Naturalista, mas, pela reflexão que faz da sociedade maranhense do século XIX, na qual a cor e o passado do indivíduo é mais importante que seu caráter, e as aparências se tornam mais relevantes que os sentimentos.
Em primeiro lugar, O Mulato possui grande importância no cenário literário e não, apenas, por ser o marco inicial do Movimento Naturalista, mas, pela reflexão que faz da sociedade maranhense do século XIX, na qual a cor e o passado do indivíduo é mais importante que seu caráter, e as aparências se tornam mais relevantes que os sentimentos.
ENREDO
Aluísio de Azevedo conta em “O
Mulato” a história de Raimundo José da Silva, filho do português José Pedro da
Silva e da escrava Domingas, foi alforriado junto com sua mãe no ato do
batismo. Um tempo depois, seu pai casa com a Sra. D. Quitéria Inocência de
Freitas Santiago e o garoto passa a sofrer maus-tratos conseqüência do ódio que
a senhora sentia pelos negros, até que seu pai recebe o ultimato: ou afasta o
moleque das vistas da esposa ou ela o mataria. Sabendo do que sua esposa era
capaz, José Pedro da Silva manda a criança para a casa de seu irmão, Manuel
Pedro da Silva, e sua cunhada, Mariana, a qual cuidou do garoto como filho.
Após
deixar seu filho aos cuidados dos familiares, José Pedro da Silva retorna à São
Brás e encontra sua esposa o traindo com o padre Diogo, o homem traído partiu
para cima da esposa e terminou estrangulando-a acidentalmente e quando ameaçou
vingar-se do padre, este o propôs que em troca de seu silêncio pelo
assassinato, o português não contaria o adultério do padre; desse modo, a causa
da morte da mulher uma congestão cerebral.
José
Pedro, viúvo, hospeda-se na casa do irmão, e prepara-se para voltar à Portugal
com seu filho, todavia, fica doente e chega à beira da morte, e após perfilhar
Raimundo, faz, inclusive, suas últimas recomendações ao irmão, declarando que
caso ele morra, o garoto deve ser enviado à casa do Peixoto em Lisboa, onde
deveria ser colocado em um dos melhores colégios e que lhe dessem do melhor e
do mais fino. Apesar da doença, José se recupera e resolve, antes de voltar
para Lisboa, visitar São Brás, a quem entregou a Domingas. No caminho, lembrou
de sua vida e ao chegar perto de seu destino, foi morto a mando do padre.
Manuel
cumpriu o desejo do irmão e Raimundo cresceu em Lisboa, estudou Direito em
Coimbra e conheceu o mundo, viajou para França, Espanha, Itália, Suíça,
Alemanha, Inglaterra e após três anos de viagem, foi ao Rio de Janeiro, onde
planejou estabelecer residência; entretanto, decide ir ao Maranhão, conhecer
sua família, investigar seu passado, pois nada sabia sobre sua mãe, e liquidar
os seus bens.
No
Maranhão, Raimundo fica hospedado na casa de seu tio, onde conhece sua prima
Ana Rosa, a qual se apaixona pelo primo, para desespero de sua avó, D. Maria
Bárbara, que foi morar com o genro após a morte de sua filha e o ajudou a criar
a neta. Ademais, Manuel pretendia casar sua única filha com seu empregado Luís
Dias, o qual tornaria seu sócio.
No
caminho para a Fazendo do Cancela, onde se hospedaram para resolver a venda de
seus bens, Raimundo pede permissão para casar-se com Ana Rosa e é negado. Já na
Casa do Cancela, ele vê uma negra com ares de louca, a qual reencontra quando
conhece São Brás, então, na fazenda de seu pai, ela se precipita para ele com
os braços abertos, após o momento de repugnância, Raimundo pergunta se ela
conhecera José da Silva e como ela continuava aproximando-se, ele levanta o
chicote, mas, é impedido por seu tio de batê-la.
Na
volta para a capital, Raimundo pergunta a seu tio o motivo da recusa e ouve que
não poderia casar-se com a prima por ser filho de uma negra – aquela a quem ele
quase bateu em São Brás
– e ter sido alforriado; sendo assim, seu casamento com uma branca traria
revolta na cidade e, principalmente, em sua sogra, o qual o fizera prometer que
casaria a filha com um português legítimo.
Raimundo
decide voltar para o Rio de Janeiro, porém, enquanto espera liquidar seus bens,
vai morar sozinha com uma criada, ao mesmo tempo em que sofre por perder seu
amor. Ana Rosa sofrendo por Raimundo revolta-se pelo rapaz não ter lutado por
seu amor.
No dia
da viagem, Raimundo despede-se de Ana Rosa e no momento que está chegando ao
local do embarque, resolve ir ao armazém de seu tio despedir-se, então,
encontra Ana Rosa e após momentos de hesitação, tem um momento de amor com a
donzela, engravidando-a.
O
mulato não embarca e vive escondido esperando o momento de fugir com sua amada,
esta confessa ao padre que espera um filho, mas, quando vai fugir com o rapaz,
o padre que investiga com ajuda de Dias o planejamento do casal, atrapalha com
a chegada da policia. Ana Rosa revela para sua família que está grávida com o
intuito de permitirem seu casamento para evitar a humilhação, mas, sua família
é irredutível.
Quando
Raimundo sai da casa de Manuel, o padre Diogo que nessa época já era cônego
encontra-se com Dias e o instiga a matar o homem que dificultava seu casamento.
Então, quando o mulato está para entrar em sua casa, é morto por um tiro na
cabeça.
Ana
Rosa que está doente na sala, vê o cortejo fúnebre e ao olhar para o defunto
reconhece seu amor, então tem uma crise e sofre um aborto espontâneo. Raimundo
é enterrado por seus familiares, Manuel e sua família vão morar em um sítio em Caminho Grande e
Ana Rosa casa-se com Luís Dias, tendo três filhos.
TEMÁTICA
O Mulato por ser uma obra naturalista, tem em sua essência um
caráter combativo, de denúncia da sociedade, logo, encontramos na obra
precursora do Movimento Naturalista, as seguintes temáticas:
·
Preconceito: O Mulato narra à história na época dos movimentos abolicionistas,
quando, apesar de promulgada a Lei do Ventre Livre, vigários e senhores
burlavam as datas de nascimento para evitar que os negros nascessem livres; é
nessa sociedade relutante com o fim da escravidão que Raimundo é alvo de
preconceito.
· Crítica à
sociedade: A principal diferença entre o
Realismo e o Naturalismo está no coletivo, já que o primeiro visa a análise
intelectual dos personagens e o segundo uma observação do meio através da
sociedade afastando-se do individualismo.
Na
obra analisada, Aluísio usa a sátira dos personagens para criticar a sociedade
maranhense com seu aspecto provinciano, a crítica é feita por um paradoxo,
pois, a sociedade maranhense é vista como hospitaleira e, no entanto, com
Raimundo mostra-se incomodada.
·
Anticlericalismo: O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós despertou um espírito de
luta contra a Igreja, estimulado pelo cientificismo da época, o qual colocava a
religião em segundo plano em relação à ciência.
Por conseguinte, em O Mulato essa crítica é feita através do
Cônego Diogo, que possui para a sociedade a imagem de um santo, mas, movimenta
toda a trama com seus planos, ora conseguindo o silêncio de José Pedro da Silva
quanto ao seu relacionamento com D. Quitéria em troca do seu silêncio para o
motivo da verdadeira morte da esposa deste, morta pelo marido ao descobrir sua
traição com o padre; ora instigando Luís Dias a matar Raimundo.
PERSONAGENS
Quanto a classificação
tradicional, os personagens são caracterizados em:
Protagonista
– em relação a ele que se definem os deuterogonistas, é o personagem principal,
na obra analisa, o mulato Raimundo.
Deuteragonista
– a personagem secundária mais importante – a amada de Raimundo, Ana Rosa.
Antagonista
– quem se opõe ao protagonista – a sociedade maranhense representada pelo
Cônego Diogo e pela família de Ana Rosa.
Comparsas
– personagens acessórios – o Freitas, Eufrasinha, Lindoca, As Sarmentos,
Casusa, entre outros.
Sendo possível, ainda,
distingui-los em:
Personagens desenhadas:
possuem uma característica básica, tendendo a caricatura, como Lindoca.
Personagens
planas: não altera seu comportamento no curso do romance, como Ana Rosa, a
qual do início ao fim da obra, tem como objetivo principal ser mãe.
Os romances naturalistas de
Aluísio Azevedo possuem o caráter de romance de espaço, pois, o meio se
sobrepõe aos personagens, sendo percebido na obra pela a sociedade ter maior
destaque com seus preconceitos e atitudes que o interior das personagens.
Além
disso, a história é iniciada com a descrição minuciosa de São Luís do Maranhão,
enquanto, os personagens, inclusive, o protagonista são descritos externamente,
pouco ou nada declarando de suas crises íntimas ou individualidades, por isso,
são facilmente integrados ao social misturando-se com ele.
Sendo um romance de espaço, o meio é fator primordial na construção da
história, a sociedade maranhense se destaca de tal forma que Raimundo não sente
o preconceito, apenas, daqueles que o revelam diretamente, como a família de
Ana Rosa, mas, de todo o coletivo, julgando o racismo daqueles uma conseqüência
do provincianismo destes.
Na obra, há predomínio do tempo
cronológico, ou seja, o tempo delimitado e caracterizado por indicadores
estritamente cronológicos atinentes ao calendário. É, possível, ainda,
encontrar flashback na
narrativa, isto é, o enredo começa em um momento e depois narra o que aconteceu
antes do início da obra, portanto, o enredo inicia com a notícia da chegada de
Raimundo para depois descobrirmos sua história; e a presença de resumos, ou
seja, quando o narrado relatava velozmente, em alguns momentos, para provocar agilidade
na obra e ignorando os aspectos irrelevantes.
DESCRIÇÃO
A descrição é uma das
características do Naturalismo com o intuito de garantir a imparcialidade e o
aspecto de realidade da obra, não sendo unicamente uma particularidade
naturalista, essa função manifesta-se quer no retrato das personagens – a prosopografia,
na terminologia da antiga retórica – quer na caracterização do espaço
social. Enquanto, a descrição do meio é encontrada no primeiro parágrafo da
obra, o retrato do personagem é marcado pela descrição superficial.
FOCO NARRATIVO
Apesar de tradicionalmente ser
classificada a narrativa e o narrador como “na primeira pessoa” ou “na terceira
pessoa”, Genette propõe uma distinção diferente. No caso de O Mulato, o
narrador é heterodiegético, visto não participar da história narrada, logo, não
podemos distinguir o narrador do autor, diferentemente de textos como A Hora da Estrela, em que o narrador
masculino difere da autora feminina.
Ficou curioso e quer conhecer mais da obra?
O Domínio Público disponibilizou o livro na net: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.doselect_action=&co_obra=16537
Abraços e até a próxima.
Muito bom
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